sábado, 5 de setembro de 2009

Vou-me embora pra Pasárgada


Eu acredito que as grandes decepções ocorrem quando se espera que do mundo nos atenderá por completo a variáveis expectativas.E já sabemos de cabo à rabo que isso não existe, e repetir não é nada muito longe que ler um livro de auto ajuda sobre como ser feliz.(eka)


Eu me questiono sobre as pessoas quando as mesmas em encontros de barzinho discursam sobre músicas, sobre livro e sobre comportamento de famosos. Tipicamente, a simples atitude de idealizar e congelar o ser humano na idéia clichê de que eles devem ser perfeitos, é um erro, ou em algum momento a explicitação mais clara de uma decepção frustrada de não ter atendido a si mesmo, ou ao seu bel prazer.


Vocês já devem ter ouvido aquela historinha tipo;


Poxa o álbum numero tal de fulano de tal foi o pior de todos. O que será que aconteceu com o novo estilo do cantorzinho tal, ta uma merda!!!. E o cantor que sumiu, o que será que aconteceu. Poxa aquele escritor famoso foi um fiasco, claro ele quis fazer diferente...Putz isso me irrita completamente. É como engessar a cabeça humana. Será que alguém na terra não pode pensar em coisas novas. Eu quero fazer coisas novas, cantar outras musicas e fazer outros sons. Será que dá, pode?!?!

Pois bem, eu não me congelo, e talvez por isso que não me torno fã de uma pessoa acreditando ou esperando que a mesma faça sucesso sempre ou atenda as minhas expectativas...Sou eclética e a todo momento me vejo gostando disso ou daquilo, sem desmerecer o cantor por completo ou um livro criado por alguém que arrebentou no primeiro momento e foi um caos no segundo. Talvez eu seja tão diferente que precise procurar um mundo novo para morar. Por isso, como dizia Manuel Bandeira...

Vou-me Embora pra Pasárgada





Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar


— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

Um comentário:

  1. Engraçado ter lido esse texto hoje. Essa é a minha frase sábia e irônica toda vez que não entendo a regra dos politicamente chatos, intolerantes e insencíveis:
    Vou-me embora pra Pasárgada...

    A última vez foi ontem, que coisa.
    Inté

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